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Decolonialidade e psicoterapia: repensando o sofrimento psíquico para além do olhar eurocêntrico

  • annacarolinacruzps
  • 2 de abr.
  • 2 min de leitura

A psicoterapia, como a conhecemos hoje, tem suas raízes profundamente ancoradas em perspectivas eurocêntricas. Os modelos de subjetividade que sustentam muitas das práticas clínicas foram historicamente desenvolvidos a partir de contextos europeus e norte-americanos, tornando-se paradigmas dominantes na compreensão do sofrimento psíquico. No entanto, esse olhar hegemônico frequentemente desconsidera outras formas de existência, narrativas e saberes que escapam às categorias da modernidade ocidental.


O que significa pensar a decolonialidade na psicoterapia?

A perspectiva decolonial propõe um deslocamento da centralidade dos referenciais ocidentais, questionando como as estruturas coloniais seguem operando nos discursos sobre subjetividade, saúde mental e sofrimento psíquico. A colonização não se deu apenas no território e na economia, mas também na maneira como pensamos, sentimos e significamos nossas experiências. Isso inclui a forma como a psicoterapia estrutura o que é considerado normal ou patológico, saudável ou disfuncional.

Ao longo da história, práticas terapêuticas ocidentais deslegitimaram formas não hegemônicas de lidar com a dor psíquica. Saberes ancestrais, cosmologias indígenas e africanas, e modos coletivos de cuidado foram muitas vezes tratados como arcaicos ou irracionais, sendo substituídos por modelos medicalizantes e individualizantes. O pensamento decolonial na psicoterapia busca recuperar essas outras epistemologias e reconhecer que a diversidade de experiências humanas exige abordagens que vão além dos paradigmas europeus.


A subjetividade na encruzilhada colonial

A experiência do sofrimento psíquico não é neutra. O racismo estrutural, o apagamento cultural e as violências herdadas da colonização afetam diretamente a constituição subjetiva de pessoas racializadas e de grupos historicamente marginalizados. A psicoterapia tradicional, ao ignorar essas questões, pode acabar reforçando um modelo que patologiza a dor sem considerar suas raízes históricas e políticas.

Pensar a clínica de maneira decolonial não significa rejeitar completamente os modelos psicológicos clássicos, mas sim questionar seus limites e expandi-los. Significa perguntar: de que forma a história colonial influencia os corpos e as subjetividades? Como os discursos psicológicos podem ser utilizados como ferramentas de dominação ou emancipação? Quais vozes foram silenciadas nos manuais de psicopatologia?


Para uma clínica crítica e situada

Uma psicoterapia comprometida com a decolonialidade precisa considerar a dimensão histórica e social do sofrimento psíquico. Isso implica escutar a dor não apenas como uma questão individual, mas como algo atravessado por estruturas de poder. Requer abrir espaço para outras narrativas e reconhecer que o cuidado psicológico não pode ser um instrumento de adaptação ao mundo, mas uma possibilidade de transformação.

A clínica decolonial não busca apenas tratar sintomas, mas criar condições para que outras formas de existir, sentir e narrar sejam legitimadas. Isso exige não apenas uma revisão teórica, mas uma prática clínica disposta a se reinventar a partir das vozes e experiências que foram historicamente marginalizadas.

Afinal, que psicoterapia estamos fazendo e para quem?

 
 
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