Ansiedade e depressão: tempos psíquicos e a escuta do sofrimento
- annacarolinacruzps
- 2 de abr.
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A ansiedade e a depressão tornaram-se dois dos conceitos mais utilizados no discurso contemporâneo sobre saúde mental. No entanto, essa recorrência frequentemente simplifica a complexidade da experiência subjetiva. O que significa estar ansioso ou deprimido? Essas condições são meros estados clínicos ou revelam algo mais profundo sobre a constituição psíquica do sujeito? A psicoterapia, especialmente a partir da escuta psicanalítica, pode oferecer um espaço onde essas vivências sejam mais do que categorias diagnósticas, tornando-se caminhos de investigação do próprio desejo e da posição do sujeito diante da vida.
A ansiedade pode ser compreendida como uma antecipação incessante, um movimento psíquico que projeta o sujeito para um futuro indefinido, carregado de incerteza e temor. O sujeito ansioso pode viver em um estado de alerta constante, como se estivesse sempre à espera de algo que nunca se realiza plenamente. O corpo responde a essa angústia: insônia, taquicardia, inquietação, pensamentos circulares. O desejo de controle, comum nesse estado, esconde um paradoxo: quanto mais se tenta prever e evitar o que está por vir, mais a angústia se intensifica.
Na perspectiva psicanalítica, a ansiedade não é apenas uma resposta a estímulos externos, mas um afeto que emerge na relação do sujeito com sua própria falta. O que essa angústia quer dizer? Que desejo inconsciente está em jogo? A ansiedade pode ser lida como um sintoma que revela um conflito psíquico não elaborado, uma tentativa de escapar daquilo que, paradoxalmente, insiste em retornar.
A depressão pode ser entendida como um esvaziamento do presente, um corte na continuidade do tempo psíquico. O sujeito deprimido pode experimentar uma perda do desejo, uma desconexão com o mundo, uma sensação de profundo esgotamento. Muitas vezes, há uma identificação com uma falta irremediável, como se algo essencial estivesse perdido para sempre.
Pode estar relacionada a um luto não elaborado, a uma posição subjetiva marcada pela renúncia ao desejo ou mesmo a uma forma inconsciente de protesto contra as demandas do Outro. Nesse sentido, o sintoma depressivo não deve ser silenciado apressadamente, nem reduzido a questões neuroquímicas, mas escutado em sua dimensão singular.
Além dos rótulos: a importância da escuta
Os diagnósticos podem ter um papel organizador, mas não podem aprisionar a singularidade da experiência psíquica. Quando a ansiedade e a depressão são tratadas apenas como distúrbios a serem corrigidos, corre-se o risco de reduzir o sujeito à sua sintomatologia, impedindo uma reflexão mais ampla sobre sua relação com o desejo, a história e os conflitos inconscientes.
A psicoterapia psicanalítica oferece um espaço de investigação e elaboração, permitindo que o sujeito se aproprie da própria experiência. Mais do que uma busca pelo alívio imediato, trata-se de um trabalho que possibilita novas formas de estar no mundo. Em tempos que exigem respostas rápidas e soluções prontas, a possibilidade de pausa, escuta e reflexão torna-se um ato de resistência—um caminho para sustentar a própria existência com mais autenticidade.